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Angela Davis

Essa matéria foi publicada na Edição 472 do Jornal Inverta, em 30/04/2014
 

Reconhecida por sua militância no Partido dos Panteras Negras para a Autodefesa, organização de estrutura leninista Angela Davisfundada em 1966, Angela Yvonne Davis é uma militante histórica que participou nos Estados Unidosdos processo de luta pelos direitos do povo negro.

Militou arduamente na campanha dos Direitos Civis na década de 60 e nas lutas pelo fim da intervenção estadunidense no Vietnã, na Guatemala, em El Salvador e em outros países; demandas articuladas com campanhas por postos de saúde em bairros pobres, distribuição de comida para famílias, arrecadação de artigos médicos de urgência nas comunidades, entre outras.

Condecorada com o prêmio Lenin da Paz, depois de visitar a União Soviética em 1979, onde trabalhou como professora honorária na Universidade de Moscou, Angela foi alvo de uma das maiores campanhas internacionais de libertação de presos e uma da figuras mais importantes na historia da militância comunista nos Estados Unidos.

Herdeira das tradições de luta das mulheres pelo direito ao voto, tem também ascendência combativa das lutadoras dirigentes do movimento de resistência à escravidão.

Hoje, aos 70 anos, ocupa a Cátedra Presidencial da Universidade da Califórnia no Departamento de Estudos Afroamericanos e permanece em luta, agora pela abolição do sistema penitenciário em seu país e internacionalmente. Também participa da campanha pela libertação dos Cinco Heróis cubanos, reconhecendo sua luta como legítima contra o terrorismo.

Angela foi tocada pela luta anti-racista na campanha pacífica de boicote ao transporte público após o caso Rosa Parks, em 1955, que inspirou Luther King às reivindicações contra os assentos separados nos ônibus, um insulto ao povo negro.

Esse movimento, que teve duração de um ano, foi duramente reprimido, um dos motivos que levou o Black Panther Party, ‘Panteras Negras’, a adotar um posicionamento de autodefesa através das armas, impulsionado pela perspectiva de não reagir com passividade frente às situações de violência que o povo negro sofria constante e deliberadamente.

Os Panteras também como posição que apenas uma revolução socialista poderia verdadeiramente acabar com problema do racismo e das demais dificuldades enfrentadas pelo povo.

Com o tempo, Angela tornou-se uma das dirigentes dessa organização, assim como do Partido Comunista dos Estados Unidos, ao qual se filiou em 1968.

Após ter sido presa sob falsa acusação de haver contrabandeado uma metralhadora para outro companheiro preso, além do sequestro e morte do juiz Harold Haley, condenada a três prisões perpétuas, Angela foge da prisão e passa a figurar entre os dez criminosos mais procurados pelo FBI, com somente 24 anos de idade. Quando capturada, foi absolvida de todos os crimes, porém, sofreu com outra forma de condenação: a proibição de ministrar aulas no Estado da Califórnia.

Depois de retomar o cargo de professora de filosofia e militante, escreve em 1981 seu livro Mulheres, raça e classe, no qual faz, primeiramente, um levantamento da relação entre os senhores e os negros e negras escravizados nos Estados Unidos do século XIX, bem como, das relações de trabalho vigentes no período pré-guerra civil.

Essas formas de organização social foram determinantes para a dinâmica familiar que se instituía entre homens e mulheres escravizados, que diferia de maneira gritante das relações entre homens e mulheres nas famílias brancas de classe média, assim como nas famílias brancas trabalhadoras.

Com o surgimento dos primeiros movimentos de mulheres, articulados pelas mulheres de classe média, cujas bandeiras traziam, por exemplo, o fim da imagem e da situação da mulher como moça do lar e o direito ao trabalho, evidenciou-se que suas pautas se distanciavam da realidade das mulheres negras, que estavam sendo escravizadas.

Para elas, frente as torturas do trabalho as quais eram submetidas, a possibilidade de trabalho doméstico se constituiria como uma vitória concreta.

Além disso, mesmo aqueles movimentos feministas que se articularam em torno das lutas abolicionistas, não contemplavam essas realidades diversas; e mais tarde se revelaram abertamente racistas nas campanhas contra o direito ao sufrágio aos homens negros.

Como conclusão sobre esses processos, Davis coloca que na composição do povo, assim como as relações de classe, as questões de gênero e raça impõe particularidades.

Frente a isso, diz que estas não podem ser ignoradas na formulação das análises do desenvolvimento social e devem ser articuladas nos processos de luta, sem as quais estão fadadas à incompletude.

Porém, ressalta que integrar não é deixar de entender com profundidade cada um dos fenômenos.

Essa tática de contemplar os problemas enfrentados pelas mulheres e pessoas de uma determinada raça nos grupos em luta, vê-se experimentada em sua própria trajetória de militância, na qual seu engajamento nas campanhas contra as guerras simbolizavam ao mesmo tempo a luta contra os abusos do racismo nos Estados Unidos e os abusos racistas perpetuados pelos soldados estadunidenses aos vietnamitas, buscando ainda aprofundar a luta pelo fim das guerras em geral, que nutrem esse sistema de exploração.

Essa mulher, negra e comunista é uma inspiração e uma formuladora intelectual para a caminhada dos povos do mundo pelas liberdades.

 

Juventude 5 de Julho - SP